Afrika, quem? Por Jéssica Balbino*

Posted on Setembro 21, 2011

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A trupe dos emocionados do “novo rap”brasileiro

Emocionadíssimos.Assim podemos definir uma parte do “novo público” que frequenta as festas de Rap. Mas eles não freqüentam só estas. Vão à festas de rock, de reggae e eventualmente, arriscam um recital.

De classe média, estudaram nos melhores colégios particulares, grande parte já foi aDisney e hoje dedicam-se a fotografia ou a publicidade. Com suas câmeras Canon T2i,fazem fotos, tratam no Photoshop, vestem roupas xadrez – pic os punks e neopunks dos anos 1990 – e tentam Vips em todas baladas de Rap que rolam no centro de SP – especialmente na Augusta – afinal, eles não são meros admiradores. São fotógrafos, publicitários, webdesigners e sim, tem toooooodos os novos CDs e EPs lançados na cena paulista, afinal, são amigos do Leandro (é assim que chamam o Emicida). Sim, conhecem a família toda dele, deste a época da Cachoeirinha.

O Projota? Se trombam direeeeeto no Lauzane. Ah, com o Michel também. É, porque conhecem ele desde muito antes dele se tornar o MC Rashid.

Acostumados com sucrilhos no prato, nunca deram muita moral para aquele tal doidinho que agora é hype e que todos chamam de Criolo. Até acham legal a canção “Não Existe Amor em SP”, afinal, não existe mesmo, né? E ele tá no mainstream. É, tiraram até umas fotos dele no Studio SP durante o último show. Claro, sempre trombaram ele na rinha.

Adoooooram as batalhas de rimas e assinam todos os posts e até mesmo mensagens de celular com as # (hashtags).

É lóóóógico que são alternativos. Quem ousa dizer que não? Rap não é algo que mostra a rebeldia contra o sistema? Sim, são apaixonados pelas rimas que falam de amor.

Ele tem algumas rimas anotadas. Fez no metrô, no último sábado, quando tava indo pro rolê. É claro que vai cantar todas elas para a sua garota, que ele faz questão de rimar com aquela tarde paulistana, completa pela garoa.

Elaaaaaammmmaaa seu vagabundo. Claro que ele é vagabundo. É, ainda é sustentado pelos pais e mora nos Jardins, mas e daí? Quem disse que para ser do Rap precisa ser da periferia.

Não vê a hora de encontrá-lo e ouvir a rima nova. Ele tá até pensando em comprar uns beats e fazer um EPzinho em casa mesmo. É, dá pra vender a R$ 2 na balada. O Leandro começou assim, poxa.

Ah, mas é tão liiiindo ir à festas de Rap. Tem uns MCs tão fofos. Ela não vê a hora de sair da faculdade – claaarroo que faz humanas, adora, quer viajar, conhecer o mundo e tirar muitas fotos – e se encontrar com ele. Hoje é quarta-feira, dia de rolê pelo centro. Vão fazer o clipe dele. Vai ficar óóótimo. Todas as garotas deveriam namorar um cara do Rap. Eles são sensíveis, tem ideias, sabem chegar, sabe?! Tipo, tem senso crítico. E vão a outras festas também.

O quê? Afrika? Afrika quem? Quem precisa desse tal Bambaata, se o namorado faz rimas, ela é amiga dos MC’s Tops, e tem uma câmera que faz fotos liiiindas. Se enxerga!

*Jéssica Balbino é jornalista, escritora, assessora de imprensa e trabalhadora da cultura Hip-Hop

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